“Sua liberdade e a
minha não podem ser separadas. Eu voltarei.” - Nelson Mandela
De vez em quando, é
dada ao mundo a oportunidade de testemunhar as verdades fundamentais da vida
através do percurso de uma única pessoa. De tempos em tempos, as ações dessa
pessoa, suas palavras e atos e sua busca por uma maior existência deixa um
legado duradouro em sua comunidade e em seus colegas compatriotas. No mais raro
das vezes, a busca dessa pessoa por paz, justiça e igualdade ressoam tão
profundamente que é carregada nos corações e mentes de cada homem, mulher e
criança na Terra.
Isso é o que Nelson
Mandela significa pra mim.
Para muitos africanos na diáspora, a vida de Madiba é uma fonte infinita de aulas e momentos de
aprendizado. Seu lugar na história afirma o nosso lugar no mundo como cidadãos
globais negros africanos, líderes e pacificadores. Ele é o exemplo definitivo
de governança africana, boa liderança e diplomacia.
Eu sou grata por ter
vivenciado, como uma jovem adulta, a transição do apartheid na África do Sul a
um jovem governo democrático. Lembro-me de ter ido às manifestações anti-apartheid
com minha mãe em meados dos anos 1980. Foi o primeiro ensinamento que me lembro
ao ver a responsabilidade coletiva que tivemos na diáspora para lutar pela
justiça, liberdade e paz na África.
Por causa de Nelson
Mandela, aprendi sobre direitos humanos a partir da perspectiva africana. Foi
mais profundo do que a independência de nossos colonizadores, foi sobre o
direito de se mover, associar, pensar, falar e contribuir livremente para o bem
estar de seu país de modo que se possa ter uma vida melhor. Para mim a vida de
Mandela representa a essência da liberdade da África – o direito de todas as
pessoas serem ouvidas, organizar, falar, discordar, viver em segurança, paz e
justiça.
"Coragem não é a
ausência de medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que
não sente medo, mas quem vence esse medo. "– Nelson Mandela
Nelson Mandela nos
lembra da capacidade da África de perdoar e aceitar o outro, transformar a luta
contra o inimigo em uma parceria para a coexistência. Sua mensagem nos leva a
olhar o interior e nos esforçarmos para sermos melhores de modo que possamos
verdadeiramente servir aos outros. Mais importante ele simboliza a sabedoria e
a vontade que os líderes devem ter para aceitarem a mudança transformadora que
cada pessoa é obrigada a passar.
Muitas vezes, muitos de
nós sabemos o que está por vir para a África e seu povo. Nós pensamos sobre as
fortunas do continente e os infortúnios, projetando maneiras de criar um melhor
caminho cheio de promessa e progresso para todos. Finalmente, chegamos a
pergunta de 64 milhões de dólares – o
que Mandela fez? Como podemos aprender com ele? Mais
importante: o que podemos fazer para desenvolver mais líderes como ele?
Eu chamo essas
perguntas de meus “Momentos Mandela”, esses momentos inegáveis, inabaláveis de
relação e reflexão onde nós revisamos a história da África do Sul e tentamos
tirar lições do estilo humilde de visão e liderança de Mandela.
Independentemente da causa, país, sistema de valor ou familiaridade com a
África, praticamente o desafio de qualquer um pode ser resolvido de alguma
forma, olhando para trás para ver como Mandela enfrentou um desafio similar.
Momentos Mandela para a
África
A vida de Mandela,
todos os 94 anos dele, refletem um período notável de uma transição após a
outra. Sessenta anos de compromisso com a justiça e a paz assumiram várias
formas. De um organizador que se tornou prisioneiro, para um líder político que
se tornou o primeiro presidente negro, a um antigo líder e diplomata
experiente, sua visão de sociedade livre, justa e igualitária nunca vacilou.
Para a África há muitos Momentos Mandela onde podemos aprender.
"A paz é a maior arma
para o desenvolvimento que qualquer pessoa pode ter." – Nelson Mandela
Na Paz e Resolução de
Conflito: Mandela é a prova de que a paz é um processo contínuo que existe
muito antes, durante e após os acordos serem assinados e prêmios serem
concedidos. É a busca comum e verdadeira de um mundo mais igualitário, justo,
tolerante e seguro com o outro.
A paz sobrevive quando
as pessoas estão dispostas a levá-la e cultivá-la com o inimigo, independente
dos obstáculos. Mandela nos mostrou que a paz não pode vir de influência ou
forças externas. Ela deve vir do indivíduo, quando o coração e a mente estão
desprovidos de interesses pessoais, queixas ou egos e totalmente comprometido
com a paz e a coexistência. Após este compromisso pessoal, Mandela nos ensinou
que a paz é alcançada e mantida quando os inimigos escolhem a convivência sobre
a guerra ou insegurança. Quando eles escolhem o perdão e a reconciliação,
juntamente com pedidos de justiça.
“Uma das coisas que aprendi quando estava negociando era que até eu me mudar, eu não poderia mudar os
outros.” – Nelson Mandela
Em Liderança e
Governança: Sabemos ao assistir muitos anos de Mandela no ANC, em sua
subsequente prisão e, finalmente, como o primeiro presidente negro do país, que
a liderança e a boa governança devem existir em todos os níveis para a mudança
sistêmica.
A liderança deve ir
além da definição de uma pessoa ou visão partidária. A boa vontade de Mandela
em trabalhar além das linhas partidárias e sentar-se com o inimigo nos dias
pós-apartheid era extremamente arriscada, humana e tolerante. Muitos sentiram
que ele tinha abandonado a luta e desistido. Suas ações mostraram que a
liderança real é colaborativa, coletiva e abrangente – exatamente o oposto de
autoridade, abordagens corruptas ou inflexíveis. É ter foco firme no objetivo
comum com perdão, flexibilidade, inclusão e visão para se ajustar às condições
humanas.
Em Desenvolvimento: Para os negros
sul-africanos, o apartheid representou mais que uma forma institucionalizada de
racismo e subjugação. O apartheid era também uma vida de pobreza sistêmica,
guerra econômica, negação dos direitos humanos básicos e sofrimento em massa de
milhões de negros africanos.
Mandela viu o nexo
entre o direito das pessoas para reunir, organizar e gozar plenamente os
direitos políticos e econômicos. A prosperidade e a liberdade de um grupo
dependem da prosperidade e liberdade do outro. Ele sabia que o governo não
poderia melhorar a vida do distrito, ou criar empregos, ou buscar o
desenvolvimento nacional em longo prazo, se não reconhecer o direito dos
sindicatos de trabalhadores negros, estudantes, mulheres e outros grupos marginalizados
para reunir, participar e se engajar com o governo. O desenvolvimento, a
prosperidade e a proteção de todos os direitos humanos estavam interligados.
No Poder: Em minha opinião, o
maior ato de Mandela como presidente foi o dia que ele optou por deixar. Não
porque ele deveria ter se afastado, mas porque nesse gesto ele demonstrou tal
visão e sabedoria, que injetou mais fé no processo político do país e do
sistema, do que na capacidade de um homem para liderar. Depois de um mandato,
apenas cinco anos, Mandela abriu caminho para seus sucessores e focou em servir
seu país pela vida cívica. Ele sabia que a nova vida da África do Sul como um
país livre necessitava de respirar e crescer. Ele precisava de uma nova vida
com mais foco na próxima geração de líderes.
Há muitos ‘Momentos
Mandela’ para aprender, mas neste Dia Mandela eu mantenho isso como, talvez, as
maiores lições que ele me ensinou. O mundo é um lugar muito mais seguro,
amoroso e tolerante por causa de Madiba. Somos eternamente gratos.
Feliz Aniversário,
Madiba!
18 de julho, 2012.
Semhar Araia é a fundadora e
diretora executiva da Rede Diáspora de Mulheres Africanas. Ela já trabalhou
para The Elders, uma organização fundada por Nelson Mandela, Arcebispo Desmond
Tutu, Graca Machel, Kofi Annan e dez outros líderes mundiais, entre 2007 e
2008.
Por Semhar Araia
Versão em Português: Mônica Brito